Os processos eleitorais são momentos especialmente sensíveis para a democracia. Nesse contexto, as ferramentas de inteligência artificial também abrem oportunidades relevantes, como facilitar o acesso à informação, ampliar o alcance das mensagens públicas e melhorar a tradução e a compreensão de conteúdos, entre outras.
No entanto, seu uso crescente para segmentar audiências, automatizar conteúdos, moderar discursos ou gerar imagens, áudios e vídeos sintéticos tem produzido impactos diretos sobre a circulação da informação e a formação da opinião pública.
A partir da análise de casos emblemáticos de diferentes países da América Latina, examinamos como esses usos se desenvolvem em cenários marcados por democracias frágeis, alta concentração de plataformas e profundas lacunas regulatórias. Longe de ser neutra, a incorporação da IA em contextos eleitorais aprofunda riscos já existentes e viabiliza novas formas de intervenção sobre o debate público.
Acesse aqui a publicação em espanhol. Em breve a versão em português estará disponível.
Desafios centrais para a América Latina
O estudo identifica cinco grandes desafios associados à expansão da inteligência artificial nos processos eleitorais da região. Entre eles, destacam-se as mudanças nas dinâmicas da desinformação, marcadas pela automação, pela hiperpersonalização e pelo maior realismo de conteúdos falsos, bem como o avanço de respostas estatais punitivas que podem resultar em censura ou em restrições desproporcionais à liberdade de expressão.
Somam-se a isso o aprofundamento da exclusão digital, a reprodução de vieses e discriminações algorítmicas e o aumento da violência política de gênero mediada pela tecnologia, com impactos diferenciados sobre jornalistas, ativistas, candidaturas de oposição e grupos historicamente marginalizados.
Conclusões e chamados à ação
O relatório alerta que a ausência de marcos normativos adequados e de mecanismos eficazes de prestação de contas amplia as possibilidades de uso abusivo dessas tecnologias e chama atenção para os riscos de delegar a plataformas privadas decisões centrais para o debate democrático.
Diante desse cenário, destaca-se a necessidade de fortalecer capacidades estatais e sociais, exigir maior transparência dos atores tecnológicos, promover padrões claros de devida diligência e avançar em regulações baseadas em direitos humanos. O objetivo é garantir que a inteligência artificial contribua para processos eleitorais mais justos e informados, sem corroer a liberdade de expressão nem o direito da cidadania de acessar informação plural e confiável.
