No dia 18 de setembro de 2025, a ARTIGO 19 Brasil e América do Sul apoiou o encontro “Em defesa das ilhas: coreografias insulares entre Guadalupe, Martinica e Cocaia”, realizado na Aliança Francesa do Recife como encerramento da exposição Pensar como Ilha, Esculpir Multidão, do artista Paulo Oliveira.
O evento reuniu artistas de diferentes territórios e trajetórias — Paulo Oliveira (Suape), Lēnablou (Guadalupe) e Rayana Rayo (Recife/Martinica) — em uma conversa espiralar mediada por Gugo Siqueira. Mais do que uma mesa-redonda, o encontro foi concebido como travessia: um laboratório de escuta, onde vozes, línguas e gestos se entrelaçaram em fluxo poético e político.
A experiência destacou-se pelo uso de multilinguagens, como projeções digitais, ambiência sonora e tradução consecutiva entre francês e português, que funcionou como mediadora rítmica. Os conceitos de bigidi (desequilíbrio que sustenta), fap-fap (gesto de adaptação intuitiva) e paisagem-sujeito atravessaram as falas, propondo uma ética de criação que resiste à lógica produtivista e valoriza o tempo da escuta e da deriva.
“O encontro foi também muito marcado por reflexões sobre as residências artísticas de uma perspectiva do Sul Global. Um ponto de aprendizado dessas conversas foi entender que não atrelar essas residências à entrega de produtos finais poderia ser benéfico para que o artista consiga aproveitar o território em intercâmbio com outros artistas e vivências”, conta Raquel da Cruz Lima, coordenadora do Centro de Referência Legal da ARTIGO 19 Brasil e América do Sul.
Como legado, o encontro articulou práticas artísticas e lutas territoriais. Moradores da região da ilha da Cocaia, incluindo lideranças do movimento Cocaia Vive, participaram do evento, ampliando o campo de atuação entre arte e ativismo. A fala de Mardônio, liderança da Vila de Nazaré, convocou os presentes para a festa da ouriçada, em 13 de dezembro — celebração popular que também denuncia os riscos de destruição da ilha frente à expansão do Complexo Industrial Portuário de Suape.
A ARTIGO 19 reconhece a potência desse gesto e vislumbra possibilidades de atuação conjunta com os coletivos que defendem a ilha da Cocaia. Seguimos comprometidos com a promoção da liberdade de expressão, do acesso à informação e da escuta como prática política, especialmente em territórios ameaçados.
Bigidi mè pa tombé — balança, mas não cai.