Semana dos Povos Indígenas: a união de jovens comunicadores em defesa da vida, do território e da floresta

Na segunda entrevista da série que marca o Dia dos Povos Indígenas (19/04), a ARTIGO 19 entrevistou o coletivo de comunicação popular 15 Guardiões, do município de Santarém, no Pará. O diálogo revela a potente atuação de jovens comunicadores que se apropriam de conceitos e técnicas de comunicação como ferramentas de luta.

Formado por jovens das mais de 114 comunidades tradicionais do Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande, o coletivo surgiu em 2018 e ganhou força no ano seguinte. Parceiros (as) da campanha #CompartilheInformação #CompartilheSaúde, o grupo utiliza o rádio, assim como outras ferramentas de comunicação, como meio de circulação de informações confiáveis e de qualidade sobre o coronavírus, numa missão de defesa da vida em comunidade, do território e da floresta. Confira:

1. De que forma a campanha #CompartilheInformação #CompartilheSaúde auxilia no desenvolvimento do projeto de comunicação popular no território? 

15 Guardiões: A campanha #CompartilheInformação #CompartilheSaúde possibilitou a expansão da nossa entrega de conteúdo, que hoje é feita através do programa de rádio, do WhatsApp, de panfletos, cartazes e outros.

2. Que tipo de informação e para que público sua iniciativa de comunicação é direcionada? 

15 Guardiões: Nós fazemos a nossa comunicação no rádio e também no WhatsApp, com faixas educativas para as comunidades que cortam o nosso território. O público destes conteúdos são todas as pessoas, em especial os jovens. Buscamos sempre falar sobre a pandemia de Covid-19, vinculando o conteúdo aos cuidados e prevenção contra o vírus. Sabemos o quanto os temas são importantes, por isso pensamos cada um deles de acordo com o que está sendo debatido no momento, como por exemplo, a situação da vacinação.

3. Por que vocês sentiram a necessidade de ocupar o rádio como canal de comunicação oficial?

15 Guardiões: Nós sentimos a necessidade de ter e ocupar esse espaço que são as rádios pelo alcance que têm, tanto em nível regional como nacional e isso porque precisamos falar. A nossa voz não pode ficar apenas entre nós [jovens militantes e comunicadores/as] mas ir além, chegar em outras pessoas. Vimos na rádio a possibilidade de expansão da nossa voz e do que temos a dizer neste momento crítico que os povos indígenas enfrentam. O rádio permite que possamos falar sobre a Covid-19, mas também sobre a importância da defesa do território, da vida e de políticas públicas efetivas para a nossa região. Além disso, ao mesmo tempo que levamos informações precisas, também podemos apresentar a nossa cultura com músicas regionais e entretenimento.

4. Quais são as maiores dificuldades de se cobrir a pandemia no seu território?

15 Guardiões: Atualmente a nossa maior dificuldade é com relação à conscientização. Nós moramos em uma comunidade no oeste do Pará e não temos, por exemplo, um banco para sacar e/ou transferir dinheiro. Vemos pessoas de todas as idades indo e voltando para a cidade para resolver suas vidas e parece, na maioria das vezes, que a Covid-19 está lá e não vai chegar aqui, o que não é verdade. A pandemia tem levado pessoas muito queridas daqui [Santarém] e sabemos o quanto isso é grave, precisamos todos ter muito cuidado. Para nós, a conscientização é uma grande dificuldade, pelo motivo de muitas pessoas não enxergarem a gravidade do problema. Vale sempre reafirmar que não se trata de uma gripezinha, é algo muito além disso e que faz vítimas todos os dias.

5. O que vocês esperam para o futuro do coletivo? Pretendem expandir? Se sim, de que forma?

15 Guardiões: Esperamos que outras iniciativas, por meio  da nossa [15 guardiões], se inspirem e se organizem para fazer essa resistência dentro dos meios de comunicação. Antes, nós vinculávamos o nosso programa na rádio comunitária e hoje chegamos na rádio de Santarém, a rádio rural AM 710, que atinge outros estados que não só o nosso. Além disso, nossa pretensão também é formar jovens comunicadores/as a fim de que tenham autonomia para tocar projetos em suas comunidades. Mesmo que a pandemia dure por mais tempo, a formação vai acontecer de forma virtual, pois queremos com isso usar os instrumentos de comunicação que temos agora para ampliar o número de jovens na luta e na resistência. Só quem sabe a realidade dos povos indígenas é os que estão em suas comunidades, por isso não há outra pessoa melhor para fazer essa comunicação senão esses jovens. É assim que vamos fazer a defesa do território, da vida e do bem viver.

6. Como a Campanha vem contribuindo para o acesso à informação para cuidados e prevenção nas comunidades? Já estão sentindo efeitos? 

15 Guardiões: Nós mandamos fazer e distribuir algumas máscaras e estamos focados na produção de conteúdo com informações sobre os cuidados e prevenção da Covid-19 no território, por meio  do programa de rádio. Também fizemos faixas e panfletos, que estão expostos em algumas comunidades.

E sim, estamos sentindo os efeitos! Toda ação tem uma reação, certo? Aqui percebemos o impacto da comunicação feita por meio das faixas. São frases chocantes, mas que reafirmam que ´numa festa sempre cabe mais um, sempre há uma vaga, mas nas filas dos hospitais superlotados e precarizados não há´. Isso é importante, pois as nossas comunidades não têm saúde de qualidade, faltam hospitais, UPAS e políticas públicas. Nossa intenção é que todos e todas saibam que é hora de cuidado: não é hora de sair, aglomerar e nem voltar à rotina.

Acesse a íntegra da primeira entrevista realizada com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) aqui

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