Malta: investigação de morte da jornalista Daphne Galizia deve ser independente

Pouco mais de uma semana após o assassinato da jornalista e blogueira Daphne Caruana Galizia, os autores do crime ainda permanecem desconhecidos.

Galizia foi morta no último dia 16, em Bidnija, cidade na região norte de Malta, devido à explosão de uma bomba plantada em seu carro.  A comunicadora era conhecida no país por investigar e expor a corrupção de políticos locais e, semanas antes de morrer, chegou a relatar à polícia que estava sofrendo ameaças.

Nos últimos meses, Galizia estava investigando os documentos que ficaram conhecidos como “Panama Papers” e, inclusive, já havia descoberto informações que ligavam o primeiro-ministro maltês, Joseph Muscat, a uma empresa com sede no Panamá que estaria envolvida em transações financeiras ilegais.

Crimes contra comunicadores como o que vitimou Galizia têm como objetivo silenciar vozes críticas e divergentes por meio da intimidação e do terror. Uma das consequências é a redução no número de trabalhos jornalísticos que busquem denunciar irregularidades cometidas por figuras públicas e pessoas poderosas.

“Uma imprensa livre e crítica são vitais para a democracia e o combate à corrupção. O trabalho de Galizia permitiu que as pessoas tivessem acesso a informações sobre as supostas irregularidades do governo maltês, tornando possível que os líderes eleitos pudessem ser expostos ao escrutínio público”, afirma Thomas Hughes, diretor-executivo-global da ARTIGO 19.

“Esse tipo de trabalho jornalístico deve poder continuar em Malta e isso só será possível com os perpetradores do crime sendo identificados e responsabilizados”, acrescenta.

Para a ARTIGO 19, o assassinato de Galizia  representa uma grave violação à liberdade de expressão e informação e deve ser objeto de uma investigação ampla, célere e transparente.

Dado que o trabalho de Galizia comprometia figuras centrais do governo maltês e do Judiciário, é imperativo que as investigações sobre seu assassinato sejam conduzidas por agentes externos e independentes, de modo a garantir que o processo transcorra com a isenção e profundidade necessárias.

Nesse sentido, o afastamento da juíza Consuelo Scerri Herrera do caso, inicialmente designada para conduzir a investigação, representa uma medida positiva já que a magistrada havia processado Galizia no passado por matérias publicadas contra si no blog da jornalista.

Convenção contra a Corrupção

De 6 a 10 de novembro, a ONU organiza, em Viena, na Áustria, a reunião global para discutir a implementação da sua Convenção contra a Corrupção, evento que ocorre a cada dois anos. A Convenção é ratificada por 183 países do mundo, inclusive Malta.

Diante do atual cenário, a ARTIGO 19 conclama todos os Estados a participarem da Convenção para que, de forma conjunta, tomem medidas que visem a proteção de comunicadores e ativistas que exponham a corrupção e enfrentam, como consequência, sérios riscos às suas vidas.

Foto: daphnecaruanagalizia.com

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