Iniciativas discutiram estratégias e compartilharam experiências em disseminar informações de forma inclusiva
O quinto e último webinar da campanha #CompartilheInformação #CompartilheSaúde explorou a diversidade e a popularização dos saberes em meio à pandemia de Covid-19 no Brasil. Realizado no dia 03/07, o encontro reuniu representantes de organizações parceiras da campanha lançada pela ARTIGO 19. Participaram do debate as organizações Movimento de Defesa dos Direitos dos Moradores em Núcleos Habitacionais de Santo André (MDDF), Coletivo Feminista Helen Keller de Mulheres com Deficiência, Movimento Cultural TUDO para TODOS, Observa PopRua e Silo – Arte e Latitude Rural. Graciela Selaiman, da Fundação Ford, mediou o webinar.
Como muitas organizações, a Silo – Arte e Latitude Rural precisou se adaptar ao contexto de isolamento social trazido pela pandemia de Covid-19. A instituição, que existe desde 2007, promove atividades imersivas in loco, como projetos de inovação, experimentação e fomento a agroecologia e agricultura familiar. Sem poder reunir os grupos em sua sede na Serra da Mantiqueira, a organização optou por fazer os laboratórios online, com projetos focados em soluções para a crise do Covid-19. “Colocamos à prova uma ferramenta que usamos há muito tempo”, como resumiu Cinthia Mendonça. Mas o resultado foi positivo, acabando por democratizar as metodologias e ideias surgidas nestes laboratórios. Da primeira edição, surgiram 27 projetos; da segunda, 50; a terceira edição vai ser realizada em breve. Estes projetos, de licença livre, estão disponíveis no site do Laboratório de Emergência, para quem quiser replicá-los em seus contextos.
O ObservaPopRua sempre se apropriou da linguagem audiovisual e realizou escuta ativa da população que mora e trabalha nas ruas, entendendo o processo de escuta como “terapêutico”, como definiu Pedro Jabur. Durante a pandemia, o coletivo vem realizando lives para disseminar informação. No entanto, para fazê-la chegar ao publico-alvo, foi preciso pensar em adaptações e coletivamente construir novas estratégias. Em outras palavras, ir além do digital e disseminar informações em saúde também por cartazes e folhetos. “Não é só o vírus que sofre mutações, mas os nossos arranjos cotidianos também”, acrescentou Pedro.
Desinformação
Combater a desinformação é um desafio comum relatado pelas iniciativas de comunicação popular durante a pandemia. Como resumiu o jornalista Vinicius Oliveira, do Movimento Cultural TUDO para TODOS “a carência não é só material, mas também de informação – e ambas têm efeitos negativos”. Um exemplo narrado por ele foi que, por falta de informação, algumas pessoas utilizaram materiais inadequados para a confeccão de máscaras, que acabavam por não ser eficazes. Por isso, a organização se mobiliza para “pensar difícil, mas falar fácil”, comunicando, informando e mobilizando a população de Aracaju (SE) pelos seus direitos. Para isso, é essencial que a linguagem seja a mesma utilizada por quem vai receber a informação. “Muitas vezes a comunicacao mira tanto uma objetividade que nos transforma em objetos. Por isso, nossa linguagem tem calor, temperatura, fala das nossas gírias, jeitos e lugares”, diz ele.
Dentre os projetos pensados pelo Movimento Cultural TUDO para TODOS está também a elaboração de um memorial das comunidades atingidas pelo coronavírus, projetando e visibilizando as vítimas, a fim de explicitar os impactos, os desafios e perspectivas futuras. “Percebemos uma tendência no país de naturalizar as mortes, especialmente dos mais pobres, dos idosos. Não estamos dispostos a naturalizar mortes anunciadas ou genocídios programados”, defendeu Vinicius.
Também pensando em disseminar a informação o máximo possível está o Movimento de Defesa dos Direitos dos Moradores em Núcleos Habitacionais de Santo André (MDDF). O grupo vem aproveitando seus mais de 30 anos de atuação junto as comunidades de Santo André para tornar-se uma referência de informação qualificada. O MDDF formou uma rede de comunicação (Comitê das Comunidades), que reúne lideranças de 80 localidades, atingindo indiretamente 111 mil pessoas. Também seguiu com o projeto Favela na Tela, onde jovens das periferias usam o audiovisual para comunicar. E, além disso, a organização vem divulgando informações de prevencão ao Covid-19 via Whatsapp, redes sociais e carros de som que circulam pelas comunidades, além de produzir um boletim semanal. “A desinformação tem sido muito grande, e nem mesmo diferentes instâncias de governo adotaram os mesmos protocolos. Essa desinformação fez com que, por exemplo, as pessoas se aglomerassem em filas para receber o auxílio emergencial. Por isso é importante nos organizarmos para fazer a informação chegar na ponta”, explicou Edinilson.A ARTIGO 19 se manifestou pela não aprovação do PL sem que antes ele seja amplamente debatido com a participação da sociedade brasileira e atores cruciais para a governança da Internet, tal como ocorreu com matérias semelhantes e de tamanha relevância como o Marco Civil da Internet (MCI) e a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Manoella Beck, do Coletivo Feminista Helen Keller de Mulheres com Deficiência, lembrou durante o webinar que informação sem acessbilidade não é informação, e que diferentes estratégias como legendagem e traducão para a Língua Brasileira de Sinais são essenciais para garantir que mais pessoas possam acessar o conteúdo – seja ele online ou offline. Um desafio citado por Manoella é a ausência de dados sobre pessoas com deficiência, exacerbada durante a pandemia. “O que essa ausência de dados vai causar no futuro? Não é só a falta de informação que nos mata, mas a informação não acessível também”. Com o apoio da ARTIGO 19, o coletivo de abrangência nacional está realizando uma série de webinars até setembro abordando violência contra as mulheres em tempos de pandemia, saúde das pessoas com deficiência e saúde mental, entre outros temas.
Sobre a campanha
A campanha #CompartilheInformação #CompartilheSaúde, promovida pela ARTIGO 19, tem o objetivo de fortalecer os direitos humanos à informação e saúde e ampliar informações confiáveis e diversas nesta crise do novo coronavírus. As organizações e iniciativas parceiras da campanha participaram de uma série de diálogos online durante o mês de junho, sempre às sextas-feiras, apresentando seu trabalho e discutindo caminhos para uma comunicação que fortaleça direitos. A primeira edição, realizada no dia Dia Mundial do Meio Ambiente, discutiu articulações territoriais; o segundo diálogo abordou interseções com gênero, raça e classe; e o terceiro explorou potenciais de rádios e podcasts. Já o quarto diálogo focou nas articulações entre juventude, comunicação e educação popular em tempos de pandemia.