Iniciativas de comunicação popular fazem parcerias com rádios e usam o WhatsApp para fazer informações de prevenção chegar ao público alvo
O terceiro webinar da campanha #CompartilheInformação #CompartilheSaúde explorou o potencial de rádios e podcasts para efetivar a liberdade de expressão e o direito à informação na crise da Covid-19. Realizado na última sexta-feira (19/06), o encontro reuniu representantes de quatro organizações parceiras da campanha lançada pela ARTIGO 19, que reforçaram a importância das iniciativas populares e comunitárias para garantir a todas as pessoas o acesso à informação em meio a pandemia. Participaram do debate as organizações Usina de Ideias, Cirandeiras, Agência Tambor e Desenrola e Não me Enrola. Aline Hack, do Olhares Podcast, foi responsável pela mediação.
Os comunicadores concordam que os podcasts, aliados a ferramentas como o WhatsApp e a rádios comunitárias ou tradicionais podem ser grandes aliados na garantia do acesso à informação, especialmente nas periferias. A Usina de Ideias, por exemplo, criou o projeto Saúde Favela durante a pandemia de Covid-19 para combater a desinformação entre os moradores da comunidade do Parolin, em Curitiba. O podcast, que já caminha para a quinta edição, aborda temas como informações de prevenção, estratégias no cuidado das crianças e como lidar com casos suspeitos de Covid-19 dentro de casa. Para divulgar o programa ao maior número de pessoas possível, moradores levam a mensagem sonora através de bicicletas pela comunidade. Além disso, o projeto tem traduzido os spots para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). “Ninguém melhor do que quem é nascido e criado na favela para saber o que é melhor. O podcast é feito por pessoas da comunidade e usa o vocabulário da periferia, porque a gente se conhece e se entende. Assim se absorve a mensagem”, disse Andréia de Lima no webinar.
Também foi durante a pandemia que surgiu o podcast Cirandeiras, que semanalmente conta a trajetória de mulheres de todo o país, focado em temáticas como mulheres no sistema prisional, no meio rural, em aldeias indígenas ou quilombolas, entre outros. Nas palavras de Joana Suarez, uma das fundadoras do podcast, o Cirandeiras é um projeto de escuta de mulheres que nem sempre são ouvidas, tendo como um dos eixos a descentralização, buscando recolher histórias de fora do eixo Rio-São Paulo.
Parcerias
Já a Agência Tambor, baseada no Maranhão, produz textos, áudios e vídeos. Na pandemia, também veicula seu conteúdo em rádios comunitárias. É um esforço da equipe de 8 jornalistas e comunicadores populares para ser uma referência, especialmente para veículos menores com menor estrutura e alcance. “Acabamos sendo apoio para outros veículos que trabalham com comunicação alternativa e são mais frágeis”, diz Emílio Azevedo. “É importante ter referências, saber de onde vem a notícia, ter credibilidade frente às fake news, especialmente no campo popular e progressista”, afirma ele.
Em São Paulo, o coletivo Desenrola E Não Me Enrola apostou em uma cobertura transversal durante a pandemia: veiculam suas reportagens nas mídias sociais, mas também em rádios parceiras e via WhatsApp. “Ao se distribuir conteúdo é importante lembrar que nem todo mundo está nas redes sociais. Na periferia, é enorme a proporção de pessoas que adotou o WhatsApp como forma de comunicação”, explica Ronaldo Matos. As rádios parceiras são veículos comunitários de diferentes periferias de São Paulo e o foco do material é reafirmar direitos dos moradores e veicular informações essenciais no contexto da pandemia.
“Fazer comunicação nas periferias de São Paulo é mais do que produzir conteúdo e distribuir, mas sim refletir sobre o território e a vida das pessoas”, reafirmou Ronaldo, durante o webinar. “Conforme nos articulamos, passamos a ter uma compreensão de país que só é possível quando se ouve o outro. Talvez essa seja o maior legado desse projeto que constrói laços, afetos e conexões entre nós”.
Sobre a campanha
A campanha #CompartilheInformação #CompartilheSaúde, promovida pela ARTIGO 19, tem o objetivo de fortalecer os direitos humanos à informação e saúde e ampliar informações confiáveis e diversas nesta crise do novo coronavírus. Para isso, a ARTIGO 19 selecionou, por meio de chamada aberta em maio de 2020, 23 organizações ou coletivos de comunicação popular, comunitária, periférica ou independente, para apoiar com R$ 8.000,00 e integrar uma rede de troca de informações. A ação busca apoiar a produção e circulação de conteúdos sobre diferentes aspectos da crise econômica, política, social e de saúde pública neste momento, trazendo novas perspectivas sobre redes de solidariedade, ações de enfrentamento, impactos e caminhos para afirmar direitos e promover a saúde pública.
As organizações e iniciativas parceiras da campanha participam de uma série de diálogos online durante o mês de junho, sempre às sextas-feiras, apresentando seu trabalho e discutindo caminhos para uma comunicação que fortaleça direitos. A primeira edição, realizada no dia Dia Mundial do Meio Ambiente, discutiu articulações territoriais; e o segundo diálogo abordou interseções com gênero, raça e classe.