Oficina de uma semana foi espaço de diálogo e instalação de uma rede comunitária no território
O acampamento Marielle Vive, parte do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), está começando uma rede comunitária em seu território, em Valinhos, interior de São Paulo. Entre os dias 8 e 12 de outubro, o acampamento recebeu a oficina “Como montar uma rede comunitária”, organizada pela a ARTIGO 19 em parceria com o movimento.
Pessoas que moram no acampamento participaram das atividades, que começaram por um diálogo sobre essas redes e as relações políticas envolvidas nas tecnologias que atravessam seu cotidiano. A partir do terceiro dia da oficina, o grupo passou a trabalhar com a instalação e configuração da infraestrutura, dos dispositivos e de aplicativos locais de forma conjunta.
Entendendo o que são redes comunitárias
As redes comunitárias podem ser compreendidas como uma infraestrutura de comunicação popular, aberta, descentralizada e gerida pelos seus próprios usuários. São uma forma de pensar coletivamente escolhas e soluções de conectividade, seja para proporcionar o acesso compartilhado à internet ou ainda para instalação de redes locais (intranet), como no caso do Marielle Vive. Esse modelo de conexão pode proporcionar à comunidade onde está inserido interações sociais através da tecnologia.
Segundo a pesquisa TIC Domicílios 2016, no Brasil, 54% dos domicílios estão conectados à internet, o que representa 36,7 milhões de residências. No entanto, a pesquisa aponta padrões de desigualdade: apenas 23% dos domicílios das classes D e E estão conectados à Internet e, nas áreas rurais, essa proporção é de 26%. O acesso à Internet está mais presente em domicílios de áreas urbanas (59%), e nas classes A (98%) e B (91%).
A política das tecnologias
No Marielle Vive, a discussão conjunta passou por temas como o funcionamento da internet, as disputas de poder em torno dela, as possibilidades em relação às redes locais e autônomas e a importância de pensarmos as tecnologias não apenas como usuários, mas também como produtores.
No encontro também foram discutidos os materiais necessários para a montagem de uma rede comunitária, os procedimentos para a instalação e os processos de manutenção da rede – incluindo questões legais, como os documentos e os trâmites para a regularização de uma rede enquanto um provedor comunitário junto ao poder público.
Também foram realizados diálogos sobre os princípios que norteiam a comunicação comunitária e a dinâmica da autogestão. A proposta é compreender este momento de construção conjunta como uma oportunidade de diversificar as pessoas que têm contato com a tecnologia e sua gestão, estimulando que posições de liderança e de envolvimento com a técnica contemplem essa diversidade, sendo ocupadas, por exemplo, por mulheres, pessoas negras e indígenas.
Confira fotos da oficina no Marielle Vive:
Fotos: Bruna Zanolli, Julia Cruz e Rodrigo Troian/ ARTIGO 19 (reprodução livre)