Polícia detém cinegrafista e confisca equipamento durante desocupação de terra na fronteiracom o Uruguai

A ARTICLE 19 condena expressamente os abusos cometidos por policiais militares contra jornalistas que cobriam uma operação de desocupação de terra no município de Rosário do Sul, no Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai.

No dia 3 de março de 2008, cerca de 800 mulheres ocuparam uma fazenda da produtora de papel sueco-finlandesa Stora Enso, no sul do Brasil. As mulheres fazem parte da Via Campesina, um movimento internacional de camponeses que defendem a reforma agrária e uma agricultura baseada nos pequenos produtores.

Segundo matérias publicadas pela imprensa, a Stora Enso comprou 45 mil hectares de terra na fronteira entre o Brasil e o Uruguai, onde planta árvores de eucalipto. A Via Campesina argumenta que a Stora Enso não poderia ter comprado terra naquela região, pois a legislação brasileira proíbe que empresas estrangeiras explorem recursos naturais na região de fronteira.

Depois que os camponeses ocuparam a fazenda para protestar contra a posse da terra, a Stora Enso obteve uma ordem judicial para removê-los do local. Jornalistas que cobriam a operação policial de desocupação, no dia 4 de março, disseram à ARTICLE 19 que foram levados por policiais militares para mais de 10 quilômetros de distância do local da operação. “A intenção não era garantir a segurança dos repórteres. Fomos isolados, de onde estávamos não dava para tirar fotos, filmar ou ouvir o que se passava”, afirmou Eduardo Seidl, repórter do jornal local Correio do Povo.

Mateus Flores, cinegrafista do Centro de Mídia Independente, disse à ARTICLE 19 que foi ameaçado e detido por cerca de meia hora pelos policiais, que também confiscaram seus equipamentos. Ele disse que havia filmado parte da operação e registrado imagens de ações violentas, inclusive agressões físicas de um dos comandantes regionais da polícia militar contra duas mulheres. Depois disso, um coronel confiscou sua câmera e o manteve detido por cerca de
30 minutos sem justificativa, ele disse à ARTICLE 19. Segundo Flores, os policiais devolveram a câmera mas sem o DVD contendo as imagens.

Os dois jornalistas disseram à ARTICLE 19 que policiais também revistaram outros repórteres. Segundo a Via Campesina, cerca de 50 mulheres foram feridas por balas de borracha, pedaços de bombas de gás lacrimogêneo e agressões físicas de policiais durante a operação. Duas manifestantes foram detidas. A brigada militar no Rio Grande do Sul não se pronunciou sobre o caso.

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