Nota de pesar sobre a morte do artista plástico e fundador do Museu Afro Emanoel Araújo

Emanoel Araújo faleceu no último dia 7 de setembro, bicentenário da independência brasileira. Nascido em 1940 na cidade de Santo Amaro da Purificação, filho de um ourives, Emanoel se mudou para Salvador, estudou belas artes e produziu um trabalho de enorme impacto desde a década de 60, quando teve obras censuradas pela ditadura militar. Sua visita à África influenciou seu trabalho na realização de colagens, pinturas, gravuras e tecidos em formas geométricas que misturavam também referências de cosmologias indígenas.

Multipremiado no Brasil e na Europa, Araújo expôs no Japão, EUA e Portugal. Foi professor de artes, diretor de museus, conselheiro artístico, gestor cultural, formulador de políticas públicas e fundador – curador do Museu Afro Brasil.

Ícone da cultura negra brasileira e um prolífico manifestante da arte e das expressões simbólicas e materiais, Araújo foi um gigante dos estudos e da preservação do patrimônio cultural, seus equipamentos e instituições. Atualmente trabalhava numa exposição temática que cruzaria o 7 de Setembro com o 2 de Julho de 1823, quando o movimento de independência baiano efetivou o processo de emancipação do país.

Negro e de orientação homoafetiva, defendia posições progressistas, moderadas, liberais e conservadoras. Circulava de maneira independente entre diferentes campos políticos. Foi, como um artista e cidadão, um livre pensador e realizador, que não se importava em manifestar posições, desconfortos e ideias.

Em um período onde a violência, o preconceito e o obscurantismo encontram eco em camadas da sociedade e nos discursos do poder, é sempre necessário relembrar a arte e a beleza de suas livres expressões. Emanoel Araújo cristalizava a manifestação artística através de uma linguagem completa, sutil, forte e de impacto, realizando na prática o exercício e o direito à liberdade de expressão, opinião, artística e política.

 

(Crédito da imagem: Museu Afro Brasil)

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