Guerra na Ucrânia x Rússia e tecnoviolência contra comunicadores

Em fevereiro de 2022, os conflitos entre Rússia e Ucrânia se aprofundaram, dando espaço à guerra. Em função disso, violações à liberdade de expressão e violências contra comunicadores e veículos de comunicação se intensificaram, na região e globalmente. Jornalistas brasileiros passaram a ser classificados pelo Twitter como “mídia estatal russa”, por trabalharem ou terem trabalhado na agência de notícias russa Sputnik, ou em outros veículos de comunicação relacionados ao país.

 

A rede social informa que a ação é voltada a diferenciar as contas de representantes de Estado, jornalistas e outros atores que informam sobre o conflito, de maneira que aqueles que recebem a informação saibam quem está emitindo o conteúdo. No entanto, a medida tem afetado comunicadores de todo o mundo, que passaram a receber ataques e ter seu trabalho visto com desconfiança, mesmo quando não trabalhando com qualquer conteúdo relacionado à política, à guerra ou aos conflitos e conjuntura internacionais.

 

Estes comunicadores informam que, ao receber a classificação em seus perfis, receberam também e-mail da plataforma informando sobre a “tag”, e indicando o caminho para proceder com reclamações e dúvidas relacionadas. Entretanto, ao fazerem contato com a rede pelos meios oferecidos, não receberam qualquer resposta satisfatória. Alguns destes comunicadores, que não trabalham mais para qualquer agência de notícias da região, conseguiram a retirada somente por meio de contatos informais com colaboradores da plataforma. Os demais, que ainda possuem alguma vinculação aos veículos, não tiveram a mesma resolução. Também não foi oferecido nenhum mecanismo de transparência por parte da plataforma que permita que os comunicadores e usuários verifiquem e entendam os critérios usados pela rede para a distribuição dos rótulos.

 

Dada a polarização do conflito, a “tag” de “mídia estatal russa” veio acompanhada de ataques contra estes comunicadores. Mesmo aqueles que denunciaram a rotulação em suas redes foram alvejados por comentários os associando ao conflito e aos posicionamentos políticos relacionados ao fato. Alguns comunicadores chegaram a restringir o acesso às suas redes, temendo a escalada dos ataques virtuais. 

 

Importante ressaltar que o aumento da tecnoviolência contra comunicadores no Brasil é um fenômeno recente, mas profundamente preocupante. O volume de ataques, a dificuldade na identificação dos agressores e a exposição dos comunicadores a diversas formas de violência são algumas das questões centrais que tornam necessário endereçar o problema com cautela. 

 

A ausência de canais de revisão efetivos pela plataforma e de mecanismos de transparência quanto aos rótulos e identificação dos comunicadores faz com que estes tenham que adotar medidas drásticas, como o auto silenciamento e a restrição das redes, profundamente prejudiciais ao exercício da comunicação e da liberdade de expressão.

 

Dessa forma, a ARTIGO 19 requer a atenção do Twitter a estes problemas, bem como a elaboração de protocolos de revisão e transparência das medidas adotadas. No mesmo sentido, seguiremos acompanhando os comunicadores atingidos e procurando meios para solucionar o cenário de exposição a ataques.

 

 

 

Imagem: Katie Godowski / Pexels

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