Iniciativas abordaram a importância de fazer comunicação sem considerar o receptor como passivo no processo, especialmente durante a pandemia
O quarto webinar da campanha #CompartilheInformação #CompartilheSaúde explorou o papel da juventude, da comunicação e da educação popular em tempos de pandemia da Covid-19. Realizado no dia 26/06, o encontro reuniu representantes de quatro organizações parceiras da campanha lançada pela ARTIGO 19, que reforçaram a comunicação como um processo ativo e coletivo, especialmente em meio a pandemia. Participaram do debate as organizações Fórum das Juventudes da Grande BH, Coletivo Rilia, Núcleo Piratininga de Comunicação e Associação Indigenista de Maringá. Clayton Nascimento, da Cia do Sal, foi responsável pela mediação.
Fazer comunicação popular durante a pandemia tem sido um grande desafio para a Associação Indigenista de Maringá (Assindi), já que o acesso a internet (e a redes sociais ou ainda ao Whatsapp) não é uma realidade comum entre a população atendida. Dessa forma, o contato tem encontrado percalços. Apesar disso, a organização tem se esforçado para disponibilizar informacões sobre a pandemia, métodos de prevenção contra o coronavírus e também sobre o acesso a benefícios sociais para os que conseguem acessar essas tecnologias. Além disso, questões de saúde mental e, especialmente, de prevenção ao suicídio têm se mostrado demandas urgentes.
Com estes percalços, o diálogo com unidades de saúde e de ensino presentes nas comunidades indígenas são fundamentais para entender tais demandas, como explicou Driéli Vieira no webinar. “Estamos tendo que usar e abusar da criatividade para trabalhar com imagens, já que nem todos falam português”, complementou ela. A ideia é também envolver os universitários indígenas atendidos pela organização para construir um material bilíngue.
A comunicação ser realizada pelos próprios membros da comunidade alvo é essencial para ir além dos estereótipos, como opinou Lucas Martins, do Coletivo Rilia, de Araçuaí (MG). O Coletivo dá suporte de comunicação a diversos projetos da região do Vale do Jequitinhonha. “Uma região que sempre foi estereotipada como região de pobreza, mas nós mostramos o que é o Vale. A rede de comunicadores é construída e administrada por jovens”, disse ele, explicitando a estratégia do Coletivo, que durante a pandemia vem fazendo spots de áudio e atuando junto outros grupos da região.
Repensar a comunicação em tempos de pandemia
Outro tópico importante levantado no Webinar do dia 26 foi a adaptação das ações dos coletivos frente a pandemia. O Núcleo Piratininga de Informação, por exemplo, acabava de montar sua turma anual de formação de comunicadores populares quando o coronavírus atingiu o país. Assim, as aulas passaram a ser online e o conteúdo priorizou o fazer comunicação via meios digitais. Os alunos estão alimentando um Diário da Pandemia na Periferia para praticar o que é discutido no curso. Atualizado diariamente, ele narra experiências periféricas pelo olhar de quem está lá. No entanto, como ressaltou Claudia Gianotti, a pandemia exigiu mudanças bruscas, com pouco tempo para adaptação. “Não é somente sobre garantir o acesso a internet – o Núcleo chegou a perder alunos por causa desse problema -, mas também adaptar-se a internet. Dar aulas a distância exige uma metodologia diferente, não é apenas reproduzir o que seria dito pessoalmente. Estamos tentando nos adaptar a isso”, enfatizou ela.
A opinião é compartilhada pelos representantes do Fórum das Juventudes da Grande BH. “A epidemia evidenciou o nosso completo despreparo para essa adaptação, além de evidenciar as desigualdades sociais. É preciso pensar estratégias e admitir que não é a mesma coisa que o formato presencial e nem vai ser”, disse Leandro Zere. Para Leandro, o melhor caminho o processo coletivo, sem a pretensão de levar soluções prontas para o público alvo, mas sim ouvir, perguntar, saber o que a juventude está fazendo.
É o que o Fórum, que reúne diversas entidads e grupos, vem fazendo. Durante a pandemia, as campanhas #JuventudeMobilizada e #CoronaLongeDaQuebrada posicionam a juventude como protagonista do processo, realizando lives, vídeos informativos, entre outros, “que deem vontade de compartilhar”, como explicou Gabriel Lopo, também do Fórum. “A cultura dos influenciadores mostrou que é possível produzirmos conteúdo digital interessante , criativo e atraente sim, isso não sai só das grandes empresas”. O importante é o processo ser colaborativo. E o resultado pode ser positivo. Como resumiu Leandro Zere: “Temos visto inovações, como batalhas de MC online e outras coisas, que mostram estratégias para superar a pandemia. Tem sido positivo ver isso. E aquece a luta”.
Sobre a campanha
A campanha #CompartilheInformação #CompartilheSaúde, promovida pela ARTIGO 19, tem o objetivo de fortalecer os direitos humanos à informação e saúde e ampliar informações confiáveis e diversas nesta crise do novo coronavírus. Para isso, a ARTIGO 19 selecionou, por meio de chamada aberta em maio de 2020, 23 organizações ou coletivos de comunicação popular, comunitária, periférica ou independente, para apoiar e integrar uma rede de troca de informações. A ação busca apoiar a produção e circulação de conteúdos sobre diferentes aspectos da crise econômica, política, social e de saúde pública neste momento, trazendo novas perspectivas sobre redes de solidariedade, ações de enfrentamento, impactos e caminhos para afirmar direitos e promover a saúde pública.
As organizações e iniciativas parceiras da campanha participaram de uma série de diálogos online durante o mês de junho, sempre às sextas-feiras, apresentando seu trabalho e discutindo caminhos para uma comunicação que fortaleça direitos. A primeira edição, realizada no dia Dia Mundial do Meio Ambiente, discutiu articulações territoriais; o segundo diálogo abordou interseções com gênero, raça e classe; e o terceiro explorou potenciais de rádios e podcasts.