Nesta terça-feira (07/04), comemoramos o Dia Nacional do Jornalista num contexto desafiador. O Brasil e o mundo enfrentam uma pandemia de saúde em que a circulação de informações é central e o trabalho das/os jornalistas é imprescindível. Ao mesmo tempo, desde a eleição de Jair Bolsonaro, comunicadores enfrentam um contexto em que o próprio presidente é agente de violações, ataques e desqualificações que irradiam para seus partidários e deterioram o ambiente de exercício profissional.
Em levantamento preliminar realizado pela ARTIGO 19, vimos que o comportamento de desqualificação do trabalho da imprensa continuou no contexto da pandemia: no período entre 13 de março e 6 de abril, menos de um mês, registramos ao menos 25 declarações na cobertura da crise do coronavírus em que o presidente, seus filhos ou algum ministro do seu governo deslegitimam a atuação de alguns profissionais, de veículos ou da imprensa em geral sempre que há questionamentos ou que cobertura desagrada o grupo político que está no poder. Se esse tipo de relação do poder público com jornalistas já era grave antes, diante da importância dessa atividade para enfrentar a pandemia, o quadro é inaceitável.
Entre os episódios, estão casos como o do pronunciamento oficial feito pelo Presidente, em sua rede social, sobre o combate ao Corona Vírus no país no dia 24 de março. Em meio a declarações que contrariam recomendações de órgãos de saúde pública, o chefe do Executivo acusou a mídia de gerar histeria e pânico ao redor da doença, como se a divulgação de informações sobre o contexto do avanço do vírus em outros países tivesse fabricado a emergência de saúde – argumento que reiteraria em pronunciamos posteriores.
Dois dias antes, em 22/03, o poder Executivo havia publicado o decreto que definia a atividade da imprensa como ‘essencial’ no combate à pandemia. No dia seguinte, em coletiva de imprensa, o Presidente da República chamou a pergunta de uma jornalista sobre as políticas de enfrentamento ao Covid-19 de “impatriótica”, “que vai na contramão dos interesses no Brasil” e “infame”. Ainda completou dizendo que se os jornalistas se sentem agredidos por esse tipo de declaração, deveriam sair da frente do Palácio da Alvorada e concluiu mandando a jornalista “às favas”. A recorrência da irresponsabilidade e hostilidade na relação com a imprensa fez com que os profissionais seguissem a orientação do presidente na semana seguinte, em 31/03, quando diversos jornalistas deixaram uma entrevista na frente do Palácio após Bolsonaro estimular apoiadores que atacavam repórteres.
Diante da emergência de saúde pública, o poder público e a mídia deveriam estabelecer parcerias para que, com corresponsabilidade, fossem produzidas informações precisas e confiáveis. Ainda para que essas informações fossem amplamente compartilhadas com a população. O poder Executivo, porém, caminha no sentido contrário, apoiando a desinformação, campanhas que confundem a sociedade e classificando a liberdade de imprensa – um dos pilares da democracia – como um inimigo neste momento crítico. Isso só torna o trabalho responsável de jornalistas ainda mais importante e necessário. Simbolicamente, o Dia Nacional do Jornalista coincide com o Dia Mundial da Saúde. Só venceremos a pandemia com informação e com a imprensa livre.