Projeto busca fortalecer alternativas de comunicação de pessoas que exercem a liberdade de expressão para defender seu modo de vida e a preservação da floresta
A ARTIGO19, por meio do projeto Todos os Olhos na Amazônia, está apoiando um projeto de rede na Reserva Alto Juruá, no Acre, que busca oferecer uma alternativa de comunicação comunitária através de estações de rádio e fortalecer os princípios de liberdade de expressão e pluralidade de vozes.
A Rede Fonias Juruá, em desenvolvimento no território desde 2015, vêm dando suporte a várias comunidades da reserva ao oferecer estações de rádio, treinamento, pesquisa, capacitação e apoio sociopolítico às lideranças locais e à comunidade em geral. A atual fase do projeto, prevê a instalação de estações de radiofonia em Ondas Curtas na reserva, um sistema que permite a troca de arquivos digitais que poderão ser acessados diretamente pelo celular.
A proposta é promover o uso eficaz e contínuo do sistema, possibilitando a transmissão de arquivos como planilhas de monitoramento da floresta, textos informativos, pequenas fotos e links de internet e outros utilizados pelas comunidades. O sistema de radiofonia em Ondas Curtas, desenvolvido pelo pesquisador Rafael Diniz, da Universidade Nacional de Brasília, e pela Rhizomática, está em sua segunda versão e vêm sendo utilizado para solução digital em comunidades remotas ao permitir a troca de arquivos digitais via ondas de rádio. Na Reserva, a internet e o sinal de telefonia móvel é ausente em grande parte do território e a radiofonia já é uma ferramenta importante de comunicação, troca de informações, alertas e proteção territorial.
Em atividades realizadas entre 20 e 31 de janeiro, uma equipe multidisciplinar, que reuniu representantes da ARTIGO 19 e de universidades com pesquisadores locais, percorreu quatro comunidades e a sede do município, realizando a montagem de uma nova estação de rádio e a manutenção e atualização do sistema em estações existentes. Também foram realizadas oficinas e vivências com membros da reserva, com o treinamento de 25 pessoas em radiofonia digital.
As atividades buscaram mobilizar ferramentas de comunicação e informação para dar apoio à luta da Reserva pela sustentabilidade, agricultura de subsistência, preservação ambiental e pelo bem viver das comunidades. Nesse sentido, também se inseriram na proposta de fortalecer a “florestania”, conceito que traz a ideia de que no planeta são sujeitos de direito “os povos que nele habitam, as gerações que ainda virão habitá-lo, os animais, as árvores, a luz, a água e até as pedras”.
Buscando amplificar as trocas e fortalecer a expressão local, nos próximos meses o projeto realizará um mini documentário sobre a visita, além da publicação de um manual de campo com informações, relatos, fotos e esquemas técnicos do projeto.
Sobre a reserva
A Reserva Extrativista Alto Juruá comemorou 30 anos do seu decreto de fundação em 23 de Janeiro deste ano. Parte do município de Marechal Thaumaturgo, ela é a mais antiga do Brasil e tem uma área de 506.186,00 hectares onde moram cerca de 5.000 pessoas. Estabelecida a partir da luta dos seringueiros e seringueiras, a Reserva é parte das conquistas ambientais refletidas na Constituição de 1988 e da sensibilização social que aconteceu após o assassinato de Chico Mendes.
A população da reserva se constitui de povos originários e descendentes de imigrantes de diferentes ciclos da borracha do século XIX, que hoje, como povos da floresta, compartilham um modo de vida, relações de parentesco e afetivas, atividades econômicas e expressões simbólicas, cosmológicas e culturais. Em sua grande maioria, são pessoas que trabalharam intensamente na extração de borracha e que, posteriormente, resistiram à exploração de sua força de trabalho e do território que habitam. A resistência tornou estas áreas terras de utilização comum, sem fronteiras de propriedade e com planos de manejo e estatutos que são estabelecidos pela própria comunidade nas assembleias de suas associações.
A situação local é complexa: envolve uma delicada relação com órgãos oficiais, a constante ameaça de madeireiros e caçadores de fora da reserva, a relação com as demais populações da região e os interesses políticos e econômicos que geram disputas na região. Nesse sentido, parcerias e projetos de comunicação que reforçam o direito à liberdade de expressão têm sido bem recebidos pela população local, que busca potencializar seu uso nas defesa cotidiana de seu modo de vida e da preservação da floresta.
Sobre o projeto Todos os Olhos na Amazônia
O projeto todos os Olhos na Amazônia busca estimular a ação em rede, com a articulação de organizações nacionais e internacionais, como estratégia para apoiar a luta de povos indígenas e comunidades tradicionais pela conservação das florestas e de seus territórios tradicionais.
Mais informações:
http://www.memorialchicomendes.org/resex-alto-jurua/
http://tiny.cc/94xhjz
http://fonias.submidia.org/en/
https://twitter.com/radioamazon
http://tiny.cc/b6xhjz
https://uc.socioambiental.org/pt-br/arp/625
Veja fotos:
Fotos: Rodrigo Marcondes e Paulo José Lara