Mulheres paralisadas no 8M

Neste 8 de março, ao invés da tradicional exaltação da figura feminina que marca a data, as mulheres decidiram reivindicar o Dia Internacional da Mulher de maneira diferente. A proposta é que nesta quarta-feira as mulheres parem suas atividades produtivas, parcial ou totalmente, sejam elas em casa, no trabalho, nas escolas ou universidades.

A Greve Internacional de Mulheres será um dia de ação, em que atos e atividades organizados por mulheres, irão acontecer em mais de 50 países ao redor do mundo. Hoje, mulheres de todo o mundo vão parar. Nem que seja por alguns momentos, farão suas manifestações individuais ou irão às ruas para demandar que nossas vidas e nosso trabalho sejam tratados com dignidade, já que são essenciais para o funcionamento da sociedade.

Todas as mulheres têm direito a uma vida livre de violência, seja ela doméstica, nos espaços públicos ou da violência institucionalizada. Vivemos hoje um quadro em que as políticas públicas deliberadamente ignoram a diferença de gênero e a enorme desigualdade entre homens e mulheres presente em nossa sociedade. Isso fica evidente quando falamos de segurança ou saúde públicas. São as mulheres as principais afetadas pela pobreza e pela falta de infraestrutura. São as mulheres negras e trans as que mais padecem com a violência urbana. Somos nós mulheres que sofremos com a violência obstétrica, que temos nossos direitos sexuais e reprodutivos desrespeitados e servindo como forma de controle dos nossos corpos. São as mulheres as que mais sofrem violações de direitos humanos, em especial em situações de conflito e imigrações.

A luta por direitos humanos tem como princípio que todos e todas possam viver com dignidade, sem sofrer discriminação de credo, raça ou gênero. Mas é importante lembrar que neste campo as barreiras de gênero também existem. As mulheres militantes e ativistas dos Direitos Humanos enfrentam uma árdua luta cotidiana pelo fato de serem mulheres, brigando por justiça e igualdade em seu próprio campo de atuação, numa luta que vai muito além de seu embate contra violações de direitos para a sociedade como um todo.

Como uma organização de direitos humanos, a ARTIGO 19 tem trabalhadoras mulheres que enfrentam as dificuldades levantadas acima, e por isso aderimos à Greve Internacional, buscando contribuir com as ações concretas e reflexões propostas para este 8 de março. Em nossa organização, atuamos para que todas as mulheres efetivem cada vez mais seus direitos à liberdade de expressão e de acesso à informação, mas sentimos que dentro das próprias organizações de direitos humanos esse tema precisa ser aprofundado.

Na esfera das organizações, instituições e movimentos sociais, a luta pela igualdade de gênero ainda precisa se enraizar. Um trabalho cotidiano pedagógico, pautado em ações concretas e afirmativas é fundamental para que as transformações que entendemos como tão necessárias à sociedade aconteçam também em nossos espaços de atuação e trabalho. As pautas de igualdade de gênero, equiparação salarial, pelo fim do assédio, sexual e moral, pelo reconhecimento das duplas ou triplas jornadas de trabalhos das mulheres precisam ser reconhecidas em nossos espaços e não podem ser secundarizadas, pois são demandas estruturantes para a sociedade mais justa e igualitária pela qual tanto lutamos, pela qual trabalhamos cotidianamente.

A luta por direitos humanos é um trabalho árduo, cotidiano e que sem a presença e participação de mulheres não irá alcançar a transformação na sociedade que tanto desejamos. Por isso nós, mulheres da ARTIGO 19, decidimos parar hoje para apoiar a greve e também para mostrar que assim como em todas as outras esferas da sociedade, nós somos imprescindíveis.

Nos vemos nas ruas! Todo apoio à Greve Internacional de Mulheres do dia 8 de março de 2017!!!

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