São Paulo contabilizou mais um episódio de violência policial contra manifestantes na manhã de ontem (6). Logo às 6h40, soldados da PM (Polícia Militar) agiram com truculência durante o cumprimento de reintegração de posse realizada no Centro Paula Souza, localizado na região central de São Paulo. O prédio estava ocupado desde o último dia 28 por estudantes secundaristas que reivindicam, entre outras pautas, a distribuição de merendas nas escolas técnicas do estado.
No início de abril, a ARTIGO 19 acompanhou uma comissão de pais e alunos em audiência na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para denunciar as violações cometidas durante os protestos de estudantes secundaristas paulistas contra a chamada “reorganização escolar” promovida pelo governo do estado.
Na segunda-feira (2), policiais militares já haviam entrado no prédio ocupado sem mandado judicial e acompanhados do secretário de Segurança Pública, Alexandre Moraes, numa aparente tentativa de intimidar os estudantes. Uma ordem judicial, no entanto, obrigou os policiais a se retirarem do prédio.
Já na quinta-feira (5), nova decisão da Justiça proibiu o uso de qualquer tipo de armamento (letal ou menos letal) pela PM durante a reintegração de posse, e determinou a presença do secretário de Segurança no local para mediar pessoalmente a ação.
Porém, demonstrando não querer optar pela via do diálogo, a Secretaria de Segurança recorreu contra tal decisão e obteve autorização para que a PM entrasse no prédio sem tais condicionantes.
Assim, na manhã de ontem, policiais isolaram a área onde está o Centro Paula Souza, impediram o acompanhamento da ação por advogados e jornalistas, e retiraram os estudantes do local de forma truculenta. Imagens mostram que estudantes chegaram a ser arrastados. Ao menos três manifestantes foram detidos.
A incapacidade da PM em dialogar com movimentos reivindicatórios mostra-se, mais uma vez, como fonte de repressão desproporcional e violência contra manifestantes. A ação torna-se ainda mais grave pelo fato de as vítimas serem adolescentes.
Também como já é usual, comunicadores e profissionais da imprensa foram agredidos durante o cumprimento da reintegração de posse. O fotógrafo Mauro Donato foi ferido após ser golpeado no rosto enquanto tentava documentar a ação da polícia.
A ARTIGO 19 condena a postura da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e enfatiza que conflitos político-sociais devem ter como via de mediação o diálogo e não a violência de cassetetes e bombas.